Escola EBJI do Livramento 1 | Ana Paula Oliveira |
A escola tem quantos alunos?
A escola no total dos três edifícios, dos planos centenários, acolhe cerca de 120 alunos, sendo 40 do pré-escolar.
Há quanto tempo lecciona no Livramento?
Já estou há muitos anos. Estive durante alguns anos na outra escola daqui do Livramento. Entretanto fui para a Ribeira Chã e mais tarde voltei novamente ao Livramento, mas para esta escola, onde estou há praticamente 8 anos. Seguramente estou á mais de 12 anos a leccionar no
Quando começou a dar aulas nesta freguesia, que realidade escolar encontrou?
Há coisas que eu diria que antes eram melhores do que são agora. Os alunos tinham uma atitude diferente, a relação que existia entre o professor e o aluno e entre o encarregado e a escola era muito melhor, era uma ligação mais aberta, existia maior respeito, maior inter-ajuda, era tudo diferente.
Actualmente, é claro que temos outra evolução, outras técnicas, até o próprio mobiliário é diferente, são os computadores, é um ambiente completamente diferente. Mas também digamos que a mal criação, falta de respeito aumentou até dizer chega. Esta falta de respeito não está apenas nas crianças, existem também em alguns encarregados de educação.Como vê o acompanhamento dos pais, nas suas casas, em relação à evolução da aprendizagem das crianças?
Sinto um bom acompanhamento dos pais e encarregados de educação. É importante frisar que a maioria dos pais mostra uma dedicação grande na educação dos filhos. Há pouco quando referi que, existia também uma falta de educação por parte de alguns encarregados de educação, estava apenas a referir-me a uma minoria, mas infelizmente tem acontecido que esta minoria tem chamado mais a atenção do que os restantes. Acaba por sujar e estragar o trabalho daqueles que se dedicam e mostram interesse na evolução do aluno.
Mas sem dúvida que tenho excelentes encarregados de educação, que acompanham muito bem os alunos. Alguns conseguem facilmente porque têm um nível escolar elevado, outros, apesar de não terem os mesmos conhecimentos, dedicam-se de igual modo e acabam por se aproximar dos professores, com o objectivo de saber como acompanhar melhor o filho. O interesse dos pais aqui na freguesia é de um modo geral muito bom.
E em outras actividades, existe ainda este mesmo interesse?
Sim. Os pais acabam por colaborar muito. Sempre que peço ajuda para a realização de festas ou outro tipo de situação, acabo sempre por receber um valioso interesse e participação da parte deles.
A exemplo disto, posso referir que, quando colocamos o gradeamento em frente à escola com o intuito de permitir a entrada apenas das crianças, nos primeiros dias acabamos verificar que alguns pais não estavam satisfeitos. Nós compreendíamos, afinal era normal os pais entrarem com a criança no recinto da escola, mas à medida que avançavam os dias, os pais entenderam e respeitaram a nova regra. Actualmente é uma situação ultrapassada, porque concordam e também porque acham que é uma medida de segurança importante. Não perderam qualquer direito porque continuam a ter os seus dias e horas para contactar os professores.
E sobre os alunos. Atendendo que cada vez mais as novas tecnologias interferem na educação deles, nota algum desinteresse ou problema em termos de concentração na aprendizagem?
Eu diria que à uns anos atrás era mais fácil motivar os meninos. Era mais fácil porque ao usar materiais de aplicação ou histórias nós conseguíamos despertar um grande interesse neles. Lembro-me de uma vez ter trazido um polvo para uma aula, de animais vertebrados e invertebrados, com o objectivo de os alunos tocarem e entenderem as características do animal. Na altura foi um sucesso, o interesse e entusiasmo foram enormes. Se fosse hoje, não iria despertar qualquer interesse. O professor acaba por fazer tudo para chamar a atenção e no fim nunca consegue muito tempo de atenção e motivação. A razão disto estará no facto de eles hoje terem muita coisa ao seu dispor. Actualmente, depois de muito criar e inventar o professor apenas cativa a turma por segundos, nem com a utilização dos computadores conseguimos aumentar a motivação.Falou nas tecnologias, como decorreu a entrega do computador Magalhães aqui na escola? Qual a utilidade do equipamento no decorrer do ano lectivo?
Aqui a entrega ainda não está feita por completo. Infelizmente ainda existem alunos que não receberam o Magalhães.
Sobre o uso deste equipamento, posso dizer-lhe que até ao momento não teve qualquer utilidade imediata. Apesar de alguns professores terem participado numa acção de formação sobre o funcionamento do Magalhães, não existem orientações para o seu uso, nem os professores têm o Magalhães para poder trabalhar ao mesmo tempo com os alunos.
Além disso, não nos podemos esquecer dos alunos que não estão abrangidos pela Acção Social e que teriam que pagar os cinquenta euros. Alguns decidiram não pagar, porque não eram obrigados, originando um número ainda maior de alunos sem o Magalhães.
Resumindo actualmente não existem directivas para utilização do Magalhães e nós professores, que temos algumas duvidas nesta implementação, acabamos por verificar que vai ser difícil encontra uma turma totalmente equipada com o computador.E para o próximos anos, existe algum planeamento sobre a próxima selecção/aquisição/entrega ou sobre a utilização deste computador?
Não. Sinceramente ainda não sei o que irá acontecer porque não temos qualquer informação sobre isso.
O que se verificou foi que os professores acabaram por despender muito tempo e ter um trabalho muito grande em todo o processo de selecção e organização. A meu ver todo este processo poderia ser feito por um funcionário administrativo que seria destacado aos núcleos. Seria para nós mais fácil e menos trabalhoso.
O equipamento é sem dúvida muito bom, tem óptimas capacidades e é adequado às crianças, pena estar com praticamente sem utilização.Tendo em conta que a escola abrange três edifícios, qual a maior carência da escola, em termos de equipamentos?
Neste momento a escola possui, às excepção das salas do pré-escolar, de no mínimo um a dois computadores por sala sem impressora. Temos o gabinete dos professores que tem dois computadores com impressoras que servem para trabalho administrativo e onde os professores acabam por imprimir alguns trabalhos. Finalmente existem 3 computadores na biblioteca que são os únicos a ter acesso à Internet. Este acesso a meu ver seria também importante existir no gabinete dos professores.
O grande problema tem sido a assistência que é péssima e que acabamos por ter um acesso muito reduzido. Por exemplo, agora estamos com muitos computadores com vírus, os professores ao trabalhar nestes terminais usam as suas pen drive e acabam por infectar também os seus dispositivos em casa. Para evitar estas situações, julgo que a assistência deveria ser contínua.
Quanto a material didáctico, existem sempre a necessidade de novos materiais. Trabalhamos muito com a papelaria Plano A que mostra-se sempre disponível para encontrar e adquirir algo que não conseguimos ter disponível na ilha. Isso aconteceu por exemplo, com a aquisição de um esqueleto humano.
Nos equipamentos exteriores, foi prometido, pela Câmara Municipal, a instalação de um equipamento lúdico com escorregas e baloiços. Esta é uma grande necessidade porque nós temos uma grande zona exterior e de momento não qualquer actividade para os alunos.
Mas a grande necessidade no recreio está na ausência de uma zona coberta, por exemplo, uns corredores de modo a garantir a boa circulação dos alunos para o refeitório, nos dias de chuva. O nosso exterior melhorou muito porque era em terra batida, mas agora depois da melhoria do piso sem dúvida que a prioridade é dar outras condições de circulação às crianças em dias de chuva.
Como vê a freguesia do Livramento, tendo em conta a evolução e desenvolvimento implementados?
Eu quando vim para o Livramento pela primeira vez, não foi por opção mas sim pela colocação, acabei por gostar muito de cá estar. Depois quando voltei, já foi por opção, ou seja, verifiquei que esta freguesia é muito agradável para se trabalhar e conviver. O Livramento cresceu muito e para melhor. É verdade que tem as suas zonas sociais mais complicadas, mas com o empenho do presidente de junta, todas as complicações acabam mais tarde ou mais cedo por desaparecer.
Ao nível do transporte, equipamentos, atenção aos problemas e dedicação pela causa pública, acredito que não deve existir em todas as freguesias a dinâmica que acontece aqui.
O único ponto que talvez fosse a melhorar está ligado ao transporte. Julgo que com uma carrinha com capacidade maior, acabaria por ajudar nas deslocações das crianças para as actividades programadas. Com uma maior capacidade de transporte seriam evitadas as idas e voltas constantes da carrinha da junta, mas claro, acredito que não seja muito fácil concretizar porque a carrinha tem um valor elevado e também porque para conduzir este tipo de transporte iria obrigar um condutor devidamente credenciado.
| Eugénia Rebelo |
A escola tem quantos alunos?
Actualmente temos cerca de 207 alunos que estão divididos por quatro turmas do pré-escolar e sete turmas do primeiro ciclo.
Trabalha nesta escola há quanto tempo?
Estou aqui desde o ano escolar 92/93, ou seja há 17 anos.
Quais as diferenças que encontra desde a sua entrada neste estabelecimento de ensino?
Estando sempre ligada ao pré-escolar, noto uma diferença muito grande no comportamento dos alunos, são crianças muito mais irrequietas, estão sempre em constante movimento. Mas noto também que têm uma maior capacidade para aprender, estão mais despertas para o que lhes rodeia. Há uns anos atrás eu sentava-me com um grupo a trabalhar na mesa, outro grupo noutra mesa e tudo acaba por decorrer com muita calma e organização, actualmente não consigo fazer isso, tenho que estar em constante movimento, a minha atenção tem que ser muito mais direccionada para os alunos. Antes era mais fácil fazer um trabalho individualizado tinha mais tempo para ajudar nas dificuldades da criança, enquanto hoje apenas consigo fazer isso após o intervalo, em momentos em que os alunos estão em actividades de livre escolha.Esta diferença também sente-se nas actividades que a escola realizava. Antes nós conseguíamos comemorar o S.João, fazíamos marchas, convívios com os pais, porque as crianças aderiam muito mais e também porque tínhamos mais disponibilidade para esse tipo de actividades. Agora é muito mais complicado concretizar o mesmo que se fazia.
Na sua opinião, as novas tecnologias ajudam a desenvolver as capacidades de aprendizagem do aluno?
Bom, através da minha sala não lhe consigo identificar esta ajuda uma vez que no meu espaço do pré-escolar não tenho computador. Existem duas salas do pré-escolar que não têm computador. As salas do primeiro ciclo têm dois computadores. A nível do pré-escolar apenas duas salas têm computador, isto porque sãos as salas dos meninos mais velhos da pré. Eu como tenho um grupo de crianças com 3 anos, fiquei sem acesso ao computador. Mas claro, acredito que seja um meio de ajuda e que consiga também motivar na aprendizagem. O aparecimento do computador Magalhães reforça esta ideia de ajuda e apoio na educação.
A entrega do computador Magalhães decorreu normalmente?
Como educadora do pré-escolar não tive qualquer intervenção neste processo. Como coordenadora posso adiantar que foi uma entrega faseada. Ainda há pouco tempo recebemos mais Magalhães, mas aqui na escola estão praticamente todos entregues aos alunos que optaram pela compra deste equipamento.
No presente ano lectivo, entraram muitas crianças com idade de 3 anos?
Sim muitos e a procura é cada vez maior. Dos que se inscreveram estão ainda dois em lista de espera. Estas crianças que estão em lista de espera, são crianças que fizeram os três anos depois de 15 de Setembro. Actualmente na pré temos três salas com 20 alunos e uma sala com 19 alunos por causa de uma transferência.
Como vê a entrada das crianças de 3 anos no ambiente escolar?
Nos anos anteriores acontecia-me ter grupos com crianças de várias idades. O ano que agora decorre é o primeiro que tenho um grupo totalmente formado por crianças de três anos. É uma situação complicada porque as nossas escolas não estão adequadas às crianças desta idade. Por exemplo, nas casas de banho, as sanitas, bacias são altas e as cadeiras na sala da pré são grandes para eles. Depois existem as crianças que estavam habituadas a dormir à tarde e que acabam por sentir a falta deste descanso, tornando-as mais aborrecidas. O meu primeiro objectivo foi dar uma boa integração a eles e depois de estarem criados hábitos, aos poucos, acabamos por fazer um bom trabalho.No pré-escolar não tenho um programa a seguir, tenho sim orientações curriculares com objectivos e competências para cada idade. Ao nível do trabalho pedagógico e educativo não se torna difícil, porque consigo identificar quais os objectivos e competências que o grupo tem que ter. Resta-me desenvolver ao longo do ano estes pressupostos. O facto de terem três anos não significa que vão estar a brincar todo o dia, eles têm as suas actividades e metas a atingir. A maior dificuldade está mesmo relacionada com o espaço físico, mas pronto, não paramos por causa disso, é uma questão de nos adaptarmos ao que existe.
Actualmente uma criança, que entre aos 3 anos, até concluir o primeiro ciclo tem pelo menos sete anos de presença na escola. Existem muitos casos destes neste estabelecimento?
Sim existem ainda muitos. Cada vez menos entram crianças de 5 anos pela primeira vez na escola. Existem os casos em que a criança sai a meio desta caminhada para ir para outra escola. Uma situação que também pode acontecer é o aluno chegar à idade de entrar no primeiro ano do primeiro ciclo e estar com grandes dificuldades na aprendizagem. Neste caso fica mais um ano na pré.
Os encarregados de educação fazem um bom acompanhamento da aprendizagem?
Eu nas minhas turmas do pré-escolar tenho sempre a preocupação de, em todos os períodos, enviar para casa um pequeno texto explicando o que vou fazer e quais os objectivos. Acima de tudo pretendo que os pais fiquem a par da aprendizagem que está a decorrer. Há alguns anos atrás existia muito a ideia de que os meninos vinham para a pré para brincar, não davam a devida importância ao ensino pré-escolar. Hoje cada vez mais nota-se que os pais se importam. Basta eu recomendar um livro para as actividades que eles compram. Noto aqui uma boa atenção e interesse por parte dos pais porque muitas vezes eles falam de situações relatadas pelos filhos. Sobre a disponibilidade para reuniões ou atendimento, é natural que acabem por não aparecer muitas vezes. Hoje em dia os trabalhos obrigam a horários cada vez mais exigentes e não nos podemos esquecer que há uns anos atrás era rara a mãe que trabalhava. Por isso é que acabo por enviar para casa várias informações como por exemplos, os pedidos, autorizações para saídas de visita de estudo e as competências e objectivos que vão ser desenvolvidos. Acima de tudo pretendo manter uma ligação saudável entre e a escola e os pais.
Como coordenadora e atendendo que a escola não é pequena, que medidas urgentes são necessárias para a melhoria das condições de trabalho?
O facto de ser uma escola grande acaba por tornar o trabalho difícil. A grande necessidade está no espaço exterior. Deixa-nos uma grande preocupação porque é uma escola com pouca segurança exterior, qualquer pessoa entra facilmente no recinto. Durante o fim-de-semana o edifício é muitas vezes vandalizado, são portas ou janelas partidas e tem vezes que deixam seringas e garrafas na zona do recreio. Nem o facto de existir um gradeamento os impede, eles saltam facilmente. Além disso, o espaço exterior é muito disperso e algumas zonas são muito irregulares. Por exemplo, a zona do campo de jogos, para além de ter muros, fica a um nível superior que impede a fácil vigilância de quem está no recreio a tomar conta das crianças. Actualmente temos uma relação de cinquenta crianças para um auxiliar e com as condições que temos no exterior acaba por se tornar num trabalho de segurança muito complicado. Refiro ainda que não existe qualquer tipo de material lúdico no recreio, não existe um escorrega, um baloiço, não existe nada. Sei que há um projecto para remodelar a escola e que contempla o arranjo de várias áreas da escola, como por exemplo, as casas de banho e lavatório exterior. Da zona do recreio não tenho bem presente que intervenção irá ser feita.
Existem actividades extra-curriculares na escola?
Directamente ligada à escola não. No ano passado tínhamos as escolinhas de desporto com a presença de um professor que dava voleibol, mas não teve continuidade. A única actividade que existe nas instalações é um ATL que pertence à Câmara Municipal de Ponta Delgada em que a escola apenas sede o espaço para o seu funcionamento, ou seja a escola não tem qualquer responsabilidade na entrada e actividades das crianças deste ATL.
Como acha que vai estar esta escola daqui a uns 30 anos?
Não faço a mínima ideia. Espero e desejo que seja um estabelecimento de ensino muito mais seguro e com óptimas referências no ensino pré-escolar e primeiro ciclo. O bom mesmo seria fazerem obras, estou aqui há 17 anos e a escola nunca foi pintada por dentro, à excepção do gabinete de coordenação que estavam em condições muito más. Por fora foi apenas pintada uma vez.
Agora sobre a freguesia. Que opinião tem sobre o Livramento, tendo em conta o seu desenvolvimento?
Eu moro aqui no Livramento há doze anos e noto uma diferença muito grande na freguesia, a nível dos espaços físicos, de limpeza e de requalificação, principalmente nos últimos oito anos. Existiu um certo cuidado nos arranjos dos locais públicos, por exemplo no miradouro do rosto do cão que é um local aprazível, nos fontanários que foram restaurados e no local onde se encontra o monumento ao romeiro. Agora o que julgo que está a faltar aqui é um espaço lúdico dedicado às crianças, um parque infantil. A existência de um jardim público com um parque infantil seria muito bom porque poderíamos dar uns passeios com as crianças da escola e claro iria valorizar ainda mais a freguesia do Livramento. Tem acontecido um crescimento muito grande em termos habitacionais que pode tornar a freguesia no tal dormitório de Ponta Delgada e a meu ver a criação de infra-estruturas de lazer iria ajudar no combate ao elevado crescimento de edifícios e moradias. A exemplo deste crescimento habitacional, eu aqui na escola não tenho praticamente alunos da Vila Faia. E os que estão aqui na escola e moram na Vila Faia são filhos de pessoas que já moravam na freguesia. Acabo por não ter inscrições de filhos de pessoas que vieram recentemente morar para o Livramento. Seria interessante a entrada destas crianças porque acredito que daria uma realidade diferente à escola, novas ideias, conhecimentos, perspectivas e atitudes que de certo iriam enriquecer o ambiente de aprendizagem.